Á serviço da desinformação
Quando o assunto é o serviço prestado pelos meios de comunicação no Brasil (cito este porque é o país que nos encontramos), o que há de ser levado em conta são todas as discussões que estão em torno da premissa “entretenimento”. Estes meios de comunicação, em especial abertos ao público em geral, muito mais do que entretenimento e diversão devem ser vistos como formadores de opinião. Uma revisão histórica da televisão aberta no Brasil pode nos trazer os parâmetros com as quais esta foi sendo moldada e estruturada de acordo com o contexto histórico-social de cada época desde que esta surgiu, por exemplo, na época da ditadura militar os canais e programas que foram censurados, quais foram os parâmetros de seleção e concessões para as redes poderem exibir ou não seus programas.
A Rede Globo no Documentário “Sorria você está sendo manipulado” (Simon Hartog 1.993) é colocada pelo cineasta como a única rede que conseguiu concessões por ter sido “vendida” aos ideais da Ditadura Militar que realizou o golpe de Estado da Extrema Direita, a partir de então a Rede Globo passou a ser vista por críticos sociais e políticos como uma TV que inculca valores burgueses, direitistas e consumistas. Neste ponto a maior parte das redes compartilha atualmente o mesmo mecanismo de ação visto que a propaganda é o que move a TV aberta.
Ao serem exibidos na TV propagandas, novelas, seriados e outros programas de entretenimento, os quais os brasileiros demandam horas de seus dias, meses e anos de suas vidas assistindo, essa programação passa a fazer parte do imaginário da população, esquece-se dos problemas reais e passa-se a acreditar no que é exibido na programação como verdade dogmática, uma vez que a maioria da população deste entretenimento barato não possui discernimento o suficiente para diferenciar realidade de ficção, ou se possui empreguiça sua capacidade critica com a informação pronta e acabada oferecida pela programação. O maior problema é que a programação é feita justamente para vender e não para formar cidadãos críticos, para passar a ilusão de que as pessoas têm de ser como os personagens plastificados da televisão. Neste sentido quanto mais “desinformação” melhor, alguém já viu na televisão apoio integral aos movimentos sociais que lutam ou conscientizam sobre os direitos das classes oprimidas da sociedade brasileira como, por exemplo, indígenas, a luta pela terra, pela equidade econômica, pela igualdade social, pelos direitos das mulheres, negros e gays?
Acredito que, salvo raras exceções, duas ou três redes são voltadas para a educação e formação e exibem documentários, debates, curtas metragens e outras formas de mídia que exigem um exercício de reflexão e aprendizagem, a maioria das redes de TV está preocupada com a propaganda milionária que desinforma, atrofia e deforma a mente do cidadão. Porém como dito anteriormente neste artigo a TV contemporânea também está inserida em um contexto histórico-social, onde esta não está agindo como um elemento isolado e sim faz parte de uma teia de agentes sociais, a responsabilidade social, de se fazer uma TV de qualidade que interaja com a educação, formação e olhar crítico do cidadão não está somente nas mãos de seus produtores, mas sim de todas as pessoas que abrem as portas de suas casas todos os dias para a programação para a informação ou desinformação, para que a televisão continue caminhando para o rumo que está ou mude seus parâmetros de seleção, ela precisa também do aval de toda essa população que permite sua inculcação e moldura mental. Somente a partir desta reflexão da população em geral é que novos paradigmas poderão ser gerados afinal ainda temos o controle de apertar o botão e dizer não à manipulação e à desinformação.